JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER

TIRADENTES (1)

Tiradentes, em pintura a óleo do pintor paulistano Washt Rodrigues (1891-1957)

Para marcar o 21 de Abril, dia do herói da Inconfidência Mineira, Tiradentes, Literatura é bom pra vista publica a letra do samba Exaltação a Tiradentes, composto por Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado.

Em 1949,  a Escola de Samba Império Serrano sagrou-se campeã com a composição. A data remete o dia da morte de Tiradentes, por enforcamento, em 1792.

Joaquim José da Silva Xavier
Morreu dia vinte e um de abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais

Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Este grande herói
Pra sempre deve ser lembrado

Ouça o samba em: https://www.youtube.com/watch?v=luD7QtVxioI

Joaquim José da Silva Xavier (1748-1792), o Tiradentes, nasceu em Minas Gerais e morreu no Rio de Janeiro. É reputado como um herói brasileiro do movimento insurgente,  que ficou conhecido como Inconfidência Mineira, e é considerado um movimento precursor da Independência do Brasil. Tiradentes foi o  único mártir da Inconfidência Mineira. Ele pertencia à cavalaria de Dragões Reais de Minas, no posto de alferes – uma patente abaixo da de tenente. Os Dragões eram uma companhia militar formada por portugueses e brasileiros que estava submetida à autoridade da Coroa lusitana e atuava na Colônia. Por ser militar (que devia obediência à Coroa) e por ter assumido a culpa da Inconfidência, a pena dada  foi a mais cruel. Depois de três anos preso, o alferes, no dia 21 de abril de 1792, foi enforcado, decapitado e esquartejado. A cabeça e os  membros de Tiradentes ficaram expostos em praça pública, em Vila Rica. O objetivo de tamanha crueldade era amedrontar a população e desestimular novos levantes contra a Coroa Portuguesa.

Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/datas-comemorativas/tiradentes.htm

 

Paes

Literatura é bom pra vista vai de três poesias, de  José Paulo Paes: Madrigal, Convite e O Aluno. A fonte é da Biblioteca José Paulo Paes*, que fica em São Paulo,  e também tem página no Facebook:  https://www.facebook.com/bibliotecajosepaulopaes/

Madrigal

Meu amor é simples, Dora,

Como a água e o pão.

Como o céu refletido

Nas pupilas de um cão.

Convite

Poesia

é brincar com palavras

como se brinca

com bola, papagaio,pião.

Só que

bola, papagaio,pião

de tanto brincar

se gastam.

As palavras não:

quanto mais se brinca

com elas

mais novas ficam.

como a água do rio

que é água sempre nova.

como cada dia

que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

O aluno

 São meus todos os versos já cantados:

A flor, a rua, as músicas da infância,

O líquido momento e os azulados

Horizontes perdidos na distância.

Intacto me revejo nos mil lados

De um só poema. Nas lâminas da estância,

Circulam as memórias e a substância

De palavras, de gestos isolados.

São meus também os líricos sapatos

De Rimbaud, e no fundo dos meus atos

Canta a doçura triste de Bandeira.

Drummond me empresta sempre o seu bigode.

Com Neruda, meu pobre verso explode

E as borboletas dançam na algibeira.

 *Poeta, ensaísta, jornalista e tradutor, José Paulo Paes nasceu em 22 de julho de 1926 em Taquaritinga, SP. Transferiu-se para Curitiba em 1944, onde conviveu com vários intelectuais da época, dentre eles o poeta Glauco Flores de Brito e Dalton Trevisan. Iniciou sua carreira literária com o livro O aluno.  O início de sua carreira como editor, aproximou-se de Cassiano Ricardo e do grupo da poesia concreta, chegando a colaborar na Revista Invenção e partilhar de algumas idéias sob a óptica do humor e do laconismo da economia verbal, recursos que usou para tornar mais acurada a ponta satírica de sua poesia. A partir de 1984, José Paulo Paes passa a escrever também poemas lúdicos para o público infanto-juvenil, trabalhando com conceitos em dicionários. Para ele “a palavra é o brinquedo que não gasta, pois quanto mais se brinca com elas mais novas ficam”.

José Paulo Paes faleceu em 9 de outubro de 1998 aos 72 anos.

Algumas obras: O aluno (1947); Cúmplices (1951); Novas cartas chilenas (1954); Mistério em casa (1961); Resíduo (1973); Calendário perplexo (1983); É isso ali (1984); Gregos e baianos (1985); Prosas seguidas de odes mínimas (1992); A poesia está morta mas juro que não fui eu (1988); De ontem para hoje (1996); Um passarinho me contou (Premio Jabuto 1997); Melhores poemas (1998); Uma letra puxa a outra (1998); Ri melhor quem ri primeiro (1999); O lugar do outro (1999).

EXPOSIÇÃO DE PAUL KLEE E O NAZISMO

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Com mais de cem obras que transitam por diversos estilos, a exposição “Equilíbrio Instável”, do poeta e pintor naturalizado alemão Paul Klee (1879-1940), vai até o dia 29 de abril no CCBB paulista. Depois, segue para o Rio de Janeiro, passando pelo resto do país, em turnê. Klee morreu aos 60 anos, em 1940, e viveu, de perto, todos os horrores da Segunda Guerra. Aliás, todos os horrores dos primeiros 40 anos sangrentos do século XX, que abrigou duas guerras. Klee serviu na Primeira. Literatura é bom pra vista publica algumas das pinturas que figuram na exposição.

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Sua obra entrou para uma lista de pintores  considerados degenerados pelo regime nazista. E nazista entendia pouco ou quase nada de arte e menos ainda de arte abstrata, considerada pelos nazis uma aberração. Klee sofreu dupla perseguição: se entrou na lista de degenerados, foi excluído de outra pela Alemanha nazista: a de professores que poderiam lecionar nas escolas de Belas Artes alemã. Não satisfeitos, invadiram a casa do pintor.

Klee 1

 

PAUL KLEE – EQUILÍBRIO INSTÁVEL

CCBB. R. Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651 – SP.  9h/21h (fecha 3ª). Grátis. Até 29/4.

 

O LUTO EM LIVRO: HISTÓRIAS DE AMOR E ACEITAÇÃO

Marcia

Temos vivido momentos de perdas e dor: Brumadinho, em Minas Gerais, tempestades torrenciais, desabamentos de prédios, no Rio de Janeiro, a escola de Suzano, em São Paulo. Mortes. Muitas mortes. Perder um ente querido é um dos momentos mais duros e difíceis da vida de cada um. Fica-se sem chão.

Mas conversar, trocar lembranças, e também o luto propriamente dito, com pessoas que sofreram e sofrem igual, talvez possa ajudar. Foi isso que a assistente social Márcia Torres Quannyn descobriu e tornou uma nova vocação em sua vida e é por isso que Literatura é bom pra vista vai contar sobre o trabalho da Márcia, que lança um livro com histórias de luto e também de esperança, neste sábado, 13*. Márcia Torres dedica a vida profissional no auxílio às pessoas enlutadas e coordena o Projeto A Vida Não Para, com a realização de palestras quinzenais no Crematório e Cemitério da Penitência, no bairro do Caju, na Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro. Foi dos encontros que nasceu a obra Oito Histórias de Saudade – para ressignificar o luto.

O trabalho de Márcia começou em 2011, quando uma amiga perdeu o filho. A assistente social decidiu ajudar aquela mãe a tentar aceitar e conviver com a perda. O episódio serviu de inspiração para ela fundar um grupo pioneiro no Rio de Janeiro, chamado Amigos Solidários na Dor do Luto, no mesmo ano.

Oito histórias

“Ao longo da minha vida, com as minhas experiências e das pessoas que pude acolher, li muitos livros sobre o luto, e a maioria ensinando a superar tudo. No luto aprendi que nunca há superação, entendo que há uma adaptação à nova vida e maneiras de transmutar toda aquela energia dolorosa em mais energia amorosa”, diz.

A intenção da obra, contudo, não é servir de divã, mas, sim, oferecer algum amparo e afago a quem sofre seu luto: “O livro é livre de lições e abundante de compreensão”, define Márcia.

As oito histórias de saudade, contadas na publicação são reais e vieram dos participantes dos grupos, que, corajosamente, concordaram em compartilhar suas emoções e sentimentos. Sim, os relatos emocionam até as lagrimas. E, sim, também se conhecem belas histórias de amor e aceitação.

O prefácio é assinado pela médica Maiéve Corralo, que, além de ser amiga da autora, também acompanha o trabalho da assistente social nos grupos.”Quando Márcia me contou sobre o projeto do luto, tive certeza que seria um tento e que muitas pessoas poderiam ser beneficiadas com tamanha positividade. Porque ela nos faz perceber que sempre existe uma saída, que outras pessoas podem estar precisando da gente e que não podemos nos dar ao luxo de desistir desta vida quando os outros dependem de nós”, assinala.

PERSONAGENS REAIS QUE ESTÃO NO LIVRO

Josy Anne é uma das personagens entrevistadas por Márcia para o livro. Ela perdeu o pai no acidente com o ônibus da Viação Itaguaí, que despencou do viaduto conhecido como Tobogã, em Itaguaí, em agosto de 2013. “Pai querido, hoje faz cinco anos que perdi você e a dor da saudade ainda me acompanha. Queria muito que estivesse aqui para conhecer seu neto, pegá-lo no colo”, diz a homenagem feita por Anne.

A perda da filha levou o casal Maria de Fátima e Carlos Alberto Sobral a frequentar o projeto A Vida Não Para, ministrado por Márcia no Crematório e Cemitério da Penitência. “Tenho buscado ajuda, porque é muito difícil conviver com a perda de um filho. Aqui, encontrei muito carinho, amor e apoio. Cada um fala da sua dor, da sua experiência, isso vai acalentando o coração”, afirma Maria de Fátima.

A economista Rosania de Oliveira divide do mesmo sentimento. Ela perdeu a filha, na época com 26 anos, em 2013, vítima de um câncer. “Eu fiquei completamente transtornada e procurando resposta para o que tinha acontecido com a minha vida. Comecei a buscar na internet algo que pudesse aliviar o meu sofrimento. Foi quando descobri as palestras de Márcia Torres Quannyn. O grupo do luto para mim, hoje, é uma família, onde encontro acalanto e tenho a certeza que não estou sozinha na minha dor”, conta.

 A troca de sentimentos e experiências é o escopo do projeto, cuja madrinha — a atriz Cissa Guimarães — também perdeu o filho em um trágico acidente, em 2010. Para a atriz, o diferencial do projeto é a fraternidade, elemento essencial no processo de elaboração do luto. O treinador de futebol Abel Braga é o padrinho da campanha. Ele viveu a dor do luto com a partida do filho calçula, em 2017, vítima de um acidente doméstico.

Serviço

Oito Histórias de Saudade, LM Editora. 112 páginas

Data: 13 de abril de 2019

Horário: 11 horas

Local: No prédio do Cemitério Vertical do Crematório e Cemitério da Penitência (R. Monsenhor Manuel Gomes, 307, no Caju).

 

BOCA DO INFERNO EM LITERATURA É BOM PRA VISTA

Gregorio-de-Matos

 

O POETA DESCREVE O QUE ERA NAQUEL TEMPO A CIDADE DA BAHIA

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.

 A JESUS CRISTO, NOSSO SENHOR

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

 

O baiano Gregório de Mattos Guerra (1636-1696) foi o mais importante poeta satírico do Brasil Colônia e também Barroco. Gregório foi advogado, desembargador. Era conhecido como o Boca do Inferno por satirizar os costumes do povo, de autoridades e nobreza. Em razão de seus escritos, Boca do Inferno é deportado para Angola 1694. No entanto, não fez só poemas  pornográficos e ofensivos. Escreveu também poemas em que tratou de temas sagrados e religiosos.

 “Como poeta de inesgotável fonte satírica não poupava ao governo, à falsa nobreza da terra e nem mesmo ao clero. Não lhe escaparam os padres corruptos, os reinóis e degredados, os mulatos e emboabas, os “caramurus”, os arrivistas e novos-ricos, toda uma burguesia improvisada e inautêntica, exploradora da colônia. Foi o primeiro poeta a cantar o elemento brasileiro, o tipo local, produto do meio geográfico e social.

Influenciado pelos mestres espanhóis da Época de Ouro, Góngora, Gracián, Calderón e, sobretudo, Quevedo, sua poesia é a maior expressão do Barroco literário brasileiro. Sua obra compreende: poesia lírica, sacra, satírica e erótica. Ao seu tempo a imprensa estava oficialmente proibida no Brasil, mas, mesmo que fosse publicada na Metrópole, como ocorreu com outros poetas do período colonial, grande parte de sua obra satírica e a totalidade da francamente pornográfica seriam, obviamente, expurgadas. Suas poesias corriam em manuscritos, de mão em mão”*

*(http://www.academia.org.br/academicos/gregorio-de-matos/biografia)

A obra de Gregório de Matos Guerra está no Domínio Público: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=45

 

 

EM PLENO OUTONO COM FERNANDO PESSOA

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No outono, iniciado em 20 de março e que fica por aqui até 21 de junho, a luz solar torna-se menos brilhante e a natureza nos concede imagens e mensagens interessantes e sábias, como de costume. A começar pelas árvores que perdem suas folhas porque é preciso deixá-las ir, para que outras possam nascer. É uma bela lição de desapego. A estação representa uma fase de transição, que nos leva ao inverno. Anoitece mais cedo, o céu se torna rosa e logo violeta. Mas o outono é também a estação da suculência das frutas: belas e perfumadas. São presentes da natureza para nós.

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Fotos internet

RUI BARBOSA NA ABL

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A Academia Brasileira de Letras segue com seu ciclo de debates Presenças Fundamentais, sobre autores brasileiros. Nesta quinta-feira, dia 4, às 17h30, a conferência, gratuita, será proferida pelo acadêmico Celso Lafer e se intitula  Rui Barbosa (na imagem acima), 170 anos, dimensão da atualidade do seu percurso.

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Celso Lafer

A entrada é franca e ainda dá, de quebra, para visitar o belo prédio da ABL, antes de a palestra começar. Mas  quem não puder ir, depois pode acessar o site da instituição e assistir ao vídeo. Aliás, vídeos. Há outras conferências anteriores na página da ABL.  (http://www.academia.org.br/memoria-da-abl/videos)

ABL LUZ

 

FOTOS: Internet

CONTATO

Academia Brasileira de Letras
Av. Presidente Wilson, 203 – Castelo
CEP 20030-021
Rio de Janeiro, RJ
Telefone: (21) 3974-2500

 

LIMA BARRETO, ATUAL SEMPRE

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O verão terminou há pouco, não sem antes fazer muitos estragos, mortes e destruição com seus temporais. Entra verão e sai verão e nada muda. Exagero?? De jeito algum. Lima Barreto (1881-1922), patrono e o queridinho de Literatura é bom pra vista, já tratava do tema em seus artigos nos jornais. Em 1915, publicava o artigo “As enchentes”, no Correio da Noite. Lima Barreto, divino e atual sempre:

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As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro, inundações desastrosas.

Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição de imóveis.

De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes urbanos.

Uma arte tão ousada e quase tão perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples problema.

O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares, dos freios elétricos, não pode estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida intagral.

Como está acontecendo atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha!

Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros municipais, procrastinando a solução da questão.

O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio.

Cidade cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe violentamente grandes precipitações atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse acidente das inundações.

Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os aspectos externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos problemas da nossa vida urbana, econômica, financeira e social. *

 Vida urbana, 19-1-1915

Fotos internet.