![Marcia](https://literaturaebompravista.wordpress.com/wp-content/uploads/2019/04/marcia.jpg?w=449&h=599)
Temos vivido momentos de perdas e dor: Brumadinho, em Minas Gerais, tempestades torrenciais, desabamentos de prédios, no Rio de Janeiro, a escola de Suzano, em São Paulo. Mortes. Muitas mortes. Perder um ente querido é um dos momentos mais duros e difíceis da vida de cada um. Fica-se sem chão.
Mas conversar, trocar lembranças, e também o luto propriamente dito, com pessoas que sofreram e sofrem igual, talvez possa ajudar. Foi isso que a assistente social Márcia Torres Quannyn descobriu e tornou uma nova vocação em sua vida e é por isso que Literatura é bom pra vista vai contar sobre o trabalho da Márcia, que lança um livro com histórias de luto e também de esperança, neste sábado, 13*. Márcia Torres dedica a vida profissional no auxílio às pessoas enlutadas e coordena o Projeto A Vida Não Para, com a realização de palestras quinzenais no Crematório e Cemitério da Penitência, no bairro do Caju, na Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro. Foi dos encontros que nasceu a obra Oito Histórias de Saudade – para ressignificar o luto.
O trabalho de Márcia começou em 2011, quando uma amiga perdeu o filho. A assistente social decidiu ajudar aquela mãe a tentar aceitar e conviver com a perda. O episódio serviu de inspiração para ela fundar um grupo pioneiro no Rio de Janeiro, chamado Amigos Solidários na Dor do Luto, no mesmo ano.
![Oito histórias](https://literaturaebompravista.wordpress.com/wp-content/uploads/2019/04/oito-histc3b3rias.jpg?w=333&h=534)
“Ao longo da minha vida, com as minhas experiências e das pessoas que pude acolher, li muitos livros sobre o luto, e a maioria ensinando a superar tudo. No luto aprendi que nunca há superação, entendo que há uma adaptação à nova vida e maneiras de transmutar toda aquela energia dolorosa em mais energia amorosa”, diz.
A intenção da obra, contudo, não é servir de divã, mas, sim, oferecer algum amparo e afago a quem sofre seu luto: “O livro é livre de lições e abundante de compreensão”, define Márcia.
As oito histórias de saudade, contadas na publicação são reais e vieram dos participantes dos grupos, que, corajosamente, concordaram em compartilhar suas emoções e sentimentos. Sim, os relatos emocionam até as lagrimas. E, sim, também se conhecem belas histórias de amor e aceitação.
O prefácio é assinado pela médica Maiéve Corralo, que, além de ser amiga da autora, também acompanha o trabalho da assistente social nos grupos.”Quando Márcia me contou sobre o projeto do luto, tive certeza que seria um tento e que muitas pessoas poderiam ser beneficiadas com tamanha positividade. Porque ela nos faz perceber que sempre existe uma saída, que outras pessoas podem estar precisando da gente e que não podemos nos dar ao luxo de desistir desta vida quando os outros dependem de nós”, assinala.
PERSONAGENS REAIS QUE ESTÃO NO LIVRO
Josy Anne é uma das personagens entrevistadas por Márcia para o livro. Ela perdeu o pai no acidente com o ônibus da Viação Itaguaí, que despencou do viaduto conhecido como Tobogã, em Itaguaí, em agosto de 2013. “Pai querido, hoje faz cinco anos que perdi você e a dor da saudade ainda me acompanha. Queria muito que estivesse aqui para conhecer seu neto, pegá-lo no colo”, diz a homenagem feita por Anne.
A perda da filha levou o casal Maria de Fátima e Carlos Alberto Sobral a frequentar o projeto A Vida Não Para, ministrado por Márcia no Crematório e Cemitério da Penitência. “Tenho buscado ajuda, porque é muito difícil conviver com a perda de um filho. Aqui, encontrei muito carinho, amor e apoio. Cada um fala da sua dor, da sua experiência, isso vai acalentando o coração”, afirma Maria de Fátima.
A economista Rosania de Oliveira divide do mesmo sentimento. Ela perdeu a filha, na época com 26 anos, em 2013, vítima de um câncer. “Eu fiquei completamente transtornada e procurando resposta para o que tinha acontecido com a minha vida. Comecei a buscar na internet algo que pudesse aliviar o meu sofrimento. Foi quando descobri as palestras de Márcia Torres Quannyn. O grupo do luto para mim, hoje, é uma família, onde encontro acalanto e tenho a certeza que não estou sozinha na minha dor”, conta.
A troca de sentimentos e experiências é o escopo do projeto, cuja madrinha — a atriz Cissa Guimarães — também perdeu o filho em um trágico acidente, em 2010. Para a atriz, o diferencial do projeto é a fraternidade, elemento essencial no processo de elaboração do luto. O treinador de futebol Abel Braga é o padrinho da campanha. Ele viveu a dor do luto com a partida do filho calçula, em 2017, vítima de um acidente doméstico.
Serviço
Oito Histórias de Saudade, LM Editora. 112 páginas
Data: 13 de abril de 2019
Horário: 11 horas
Local: No prédio do Cemitério Vertical do Crematório e Cemitério da Penitência (R. Monsenhor Manuel Gomes, 307, no Caju).