18 DE MAIO: DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS

O Dia Internacional dos Museus, celebrado em 18 de maio, no ano de 2024 traz como tema “Museus, Educação e Pesquisa”. Proposto pelo Conselho Internacional de Museus – ICOM, visa uma reflexão sobre a atuação necessária dos museus como impulsionadores de educação e pesquisa. A partir desta temática, a mesa “Um Laboratório para Exposições: notas sobre a parceria Kambacua e IMS” irá refletir sobre a parceria do Instituto Moreira Salles (IMS) com o Coletivo Kambacua que se iniciou em 2023 com a realização do Laboratório de Produção de Exposições. Esta formação teve um caráter inovador ao provocar o encontro do interior da instituição, através de ofícios nem sempre tão vistos, com esses profissionais que já atuam em outras áreas da metrópole. Dessa forma, semelhanças e diferenças foram evidenciadas privilegiando a construção de novos saberes para ambas as partes, promovendo  o fortalecimento da produção cultural e a democratização do acesso ao conhecimento. (Transcrito do Instituto Moreira Salles).

“Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos e ao serviço da sociedade que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Com a participação das comunidades, os museus funcionam e comunicam de forma ética e profissional, proporcionando experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimentos. Definição aprovada em 24 de agosto de 2022 durante a Conferência Geral do ICOM em Praga. ”. Reprduzido do ICOM (http://www.icom.org.br/?p=2984)

5ª edição do ‘MAB Margens – Feira de Artes Gráficas’ acontece no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, em meio à 22ª Semana Nacional de Museus reúne artistas e coletivos para celebrar um evento que já se tornou tradição no calendário cultural de São Paulo. Com gratuidade no Museu durante todo o dia 18 de maio (sábado), a 5ª edição da feira de artes gráficas MAB – MARGENS ocorre das 12h às 18h. Venha conhecer e refletir sobre “as margens” enquanto espaço-fronteira de produções, com artistas e coletivos que nem sempre são visibilizados no cenário das artes visuais. 

Como um manifesto vivo, o Museu oferece sua bela marquise diante do lago do Parque Ibirapuera para as produções de artistas inovadores, visando o diálogo e as trocas com o público, possibilitando o fomento da diversidade e a valorização. O objetivo é lhes oferecer espaço privilegiado de divulgação e venda de suas produções gráficas.

Para esta 5ª  edição, foi lançado um chamamento público, divulgado via redes sociais e site do Museu, por meio do qual foram selecionados 14 artistas e coletivos pela Comissão de Seleção formada por profissionais de diferentes núcleos de trabalho do Museu. Foram também convidados 5 artistas, cujos portfólios retratam a diversidade social no Brasil.

Segundo Guinho Nascimento, um dos artistas que irão expor na feira, participar da MAB Margens é uma possibilidade de encontro. “É estar em comunidade pra ser e fazer mercado, entendendo a feira numa perspectiva que Exu apresenta: um lugar de movimentação, comunicação, prosperidade e caminhos. Assim, vai além de estar à margem do museu, é estar dentro. Não é a parede que nos distancia, porque a MAB é o quintal do Museu, aberto para comer, dançar, enfeitar, apreciar, rezar e celebrar”. 

Para a artista Neia Martins, a importância é, “estar no espaço do Museu Afro Brasil Emanuel Araujo e no coletivo de artistas que representam esse cenário cada vez mais inclusivo”.

A 5ª MAB – MARGENS acontecerá na marquise do Museu, localizada na área externa do pavilhão Padre Manoel da Nóbrega no Parque Ibirapuera, próximo ao Portão 10. O acesso será livre e sem a necessidade de inscrição prévia, lembrando que no dia da feira a entrada do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo será gratuita.

Sobre o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo administrada pela Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura. Inaugurado em 2004, a partir da coleção particular do seu diretor curador, Emanoel Araujo (1940-2022), o museu é um espaço de história, memória e arte. Localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do mais famoso parque de São Paulo, o Parque Ibirapuera, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo conserva, em cerca de 12 mil m2, um acervo museológico com mais de 8 mil obras, apresentando diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiro e abordando temas como religiosidade, arte e história, a partir das contribuições da população negra para a construção da sociedade brasileira e da cultura nacional. O museu exibe parte deste acervo na exposição de longa duração e realiza exposições temporárias.

Serviço: 5ª edição MAB MARGENS – Feira de Artes Gráficas 

Sábado, 18 de maio, das 12h às 18h, com gratuidade no Museu das 10h às 17h

Serviço: Oficina de Estamparia em Pano de Prato com JAMAC, arte e vida em superfície

Dia: 18 de maio Horário: 14h às 16h, com inscrições via site do Museu: www.museuafrobrasil.byinti.com

Na atividade, serão apresentadas técnicas de estamparia em tecido com os artistas do JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube). A Educadora Izabel Gomes utiliza materiais simples e acessíveis para criação de padrões únicos e personalizados em panos de prato – uma superfície para contar histórias e ensinar a técnica de estêncil, criando desenhos a partir de memórias pessoais e coletivas. Não é necessário ter experiência prévia para participar, mas as vagas são limitadas! As inscrições podem ser feitas via site do Museu.

Endereço do Museu: Parque Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 10, São Paulo – SP ( acesso via transporte público ou veículo de aplicativo)
Funcionamento: terça a domingo, 10h às 17h (permanência até às 18h)
Ingresso: R$15 (meia entrada, R$7,50)
Grátis às quartas e em 18 de Maio de 2024, dia da 5ª Mab Margens
Estacionamento (Parque Ibirapuera)
Horário: das 5h à 0h
Acessos para automóveis: Portões 3 e 7

República dos Estados Unidos da Bruzundanga

Por Cristina Nunes de Sant´Anna*

Os atores da peça Bruzundangas. Foto: Sabrina Pivato da Paz

Mas o que é bruzundanga? Segundo nos informa o dicionário Michaelis online: 1 – Palavreado confuso, difícil de entender; algaravia: Tudo o que se ouvia eram bruzundangas, ditas em voz baixa. 2 – Falta de ordem; barafunda, caos, confusão: O que significa toda esta bruzundanga? 3 – Comida malfeita ou pouco limpa, de aspecto repugnante: Desculpe, mas não dá para comer esta bruzundanga. 4 Reg (AM), Etnol Beberagem preparada por curandeiros; garrafada, mezinha. Bruzundangas sf pl. 5 – Coisas de pouco valor; badulaques, bugigangas: Tem uma loja que só vende bruzundangas”.

Bruzundangas: Coisas de pouco valor.

Assisti à peça Os  Bruzundangas, há cerca de três semanas, a convite de minha amiga, a também jornalista Waleria de Carvalho. A peça se baseia no livro de mesmo nome de Lima Barreto e foi adaptada para teatro pela primeira vez por Renato Carrera, que também atua e dirige o espetáculo.

Primeiro, a obra de Lima. Nela, o escritor e jornalista nos apresenta um país fictício, em que políticos se acham melhores do que os demais mortais, o nepotismo é regra, o racismo e a corrupção são figurinhas fáceis. Oligarcas, doutores, passando ao largo da ética e dos interesses dos bruzundanguenses, transitam “na terra que vive na pobreza, a população rural oprimida pelos chefões políticos, inúteis, vive sugada (…). Algumas centenas de parvos, com títulos altissonantes disso ou daquilo, gozam de vencimentos, subsídios, duplicados e triplicados” (Bruzundangas).

Escrito em 1917, Lima não viu seu romance ser publicado em vida. O lançamento do livro foi em dezembro de 1922. Lima Barreto morreu em 1 de novembro, aos 41 anos.

Bom, preciso também esclarecer que Lima Barreto e sua obra são meus objetos de paixão, encantamento e apreço, desde a redação de minha monografia de conclusão do curso de Jornalismo na Uerj. Mestrado, doutorado e pós-doutorado também foram com ele. Afonso Henriques de Lima Barreto  –  seu nome completo – tratou dos desvalidos, dos sem voz, do povo pobre, simples. Romancista e cronista da Primeira República, foi um dois mais importantes escritores de ficção brasileira, sendo o precursor do Movimento Modernista e do romance social. Seus escritos foram pouco valorizados em vida. Seu talento como escritor só vem sendo reconhecido de uns tempos para cá, quando vira tema de diversos estudos, nos mais diversos campos do conhecimento, em virtude de sua obra ser considerada fonte de informação, pesquisa e do que o próprio autor representou (e representa) como intelectual, escritor, jornalista, negro, no contexto da República Velha, que deu origem a nossa República.

Jornalista, escritor, alcoólatra, humilhado em muitas ocasiões, por ser negro, tendo acessos de loucura até o fim da vida breve, Lima Barreto nos legou vasta obra. Além de suas crônicas, há romances e ensaios, artigos, contos, reportagens, material reunido em 17 volumes, editado e publicado pela Brasiliense, em 1956, sob a coordenação do principal biógrafo do autor, o historiador e jornalista Francisco de Assis Barbosa. Ao montar, em sua portentosa obra, rico e variado painel, com fortes tintas, Lima Barreto cruza a fronteira da caricatura, mas isto é também parte de seu projeto de reconstruir o ideário de nação mais igualitário. Com o riso, o deboche, a literatura militante, partidária e engajada, o bêbado e esbodegado Lima Barreto fabricou um bote salva-vidas para o povo náufrago da República Federativa do Brasil.   Atualíssimo sempre.

À peça, então.  A adaptação do livro, a encenação dos atores, suas interpretações, o enredo, a montagem do espetáculo são irretocáveis. Em síntese: o espetáculo nos leva a Lima Barreto, nos faz estar com Lima Barreto e com o Brasil ainda tão desigual e tão igual ao Brasil dos Bruzundangas. Durante uma hora e meia, o elenco capta o deboche, a ironia do autor, a opção deliberada dele pela linguagem direta, cortante, voltada para a oralidade, levando-nos a refletir, que era o que Lima também desejava. Igual linguagem, sem subterfúgios, empregam os atores. Falam numa linguagem barretiana porque o escritor, com o uso de um texto próximo da oralidade, simples, mais próximo da realidade, mostrou ao leitor de sua obra a ideologia dominante. Tal qual a peça a qual assistimos. Tal qual a época em que vivemos. Atualíssimas, pois então.

Registre-se, ainda, a originalidade do espetáculo: a adaptação do livro para o teatro foi feita (e muito bem feita) pela primeira vez. Nascido num 13 de maio de 1881, a peça é um presentaço para Lima e para nós, os espectadores.

O espetáculo entra em sua última semana no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, no Centro do Rio. A peça poderá ser vista de quinta a sábado às 19h e domingo às 18h. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), pela bilheteria ou no site bb.com.br/cultura.

A obra  Bruzundangas está em domínio público. Vale a pena ler: https://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/bruzundangas.pdf

*Jornalista

Exposição “Mundo Zira – Ziraldo Interativo” prorrogada até 27 de maio!

Exposição se estende para a Biblioteca e terá ainda quatro sessões do documentário “Ziraldo, Era uma vez um menino”, com direção de Fabrizia Pinto, filha do cartunista

A mostra inspirada na obra do cartunista, escritor e chargista Ziraldo, que faleceu no dia 06 de abril, aos 91 anos, já ultrapassou o marco de 120 mil visitantes e acaba de ser prorrogada até o dia 27 de maio. Dando sequência à programação, “Mundo Zira – Ziraldo Interativo” exibe agora ao público uma coleção inédita de 30 objetos pessoais do escritor, na Biblioteca do CCBB RJ, localizada no 6º andar.

Os objetos foram selecionados pelas curadoras da exposição, Daniela Thomas e Adriana Lins, filha e sobrinha do Ziraldo, respectivamente, e diretoras do Instituto Ziraldo. Entre as obras estão um dos coletes que Ziraldo usava, marca registrada do artista; materiais de trabalho, como pincéis, tintas, canetas tinteiro, lápis de cor; troféus; encadernações de publicações da Revista Pererê; bonecos de seus personagens; edições do livro O Menino Maluquinho em outros idiomas e livros do acervo do CCBB. “A gente nunca expôs objetos de trabalho do Ziraldo, é a primeira vez que abrimos esse acervo para o público. Os livros que usamos para a curadoria estão acessíveis agora. Também vamos trazer cenas de pessoas interagindo com a exposição e depoimentos de anônimos e famosos falando sobre a exposição. É um lugar de muito afeto e aconchegante”, explica Adriana Lins.

A exposição oferece uma jornada imersiva pelas criações mais celebradas de Ziraldo, com áreas temáticas dedicadas a clássicos como ‘Flicts’, ‘O Menino Quadradinho’ e ‘A Turma do Pererê’. A exposição se destaca por unir interatividade e tecnologia com a arte tradicional, proporcionando uma nova leitura das obras icônicas do artista. “Quando pensamos na obra do Ziraldo, pensamos no prazer, no fascínio e na alegria que ele consegue transmitir com sua arte. Agora, nessa exposição, queremos ir além das páginas, sair do papel, recriando uma conversa com o seu acervo. Em Mundo Zira, livros, quadrinhos e personagens saem das páginas e ganham novas dinâmicas pelas mãos dos visitantes”, afirma Daniela Thomas.

Serviço Mundo Zira – Ziraldo Interativo

Local: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
Endereço: Rua Primeiro de Março, nº 66 – 4º andar – Centro, Rio de Janeiro/RJ
Período: 06 de março a 27 de maio de 2024
Funcionamento: Todos os dias, exceto terça-feira, das 9h às 20h.
Ingressos gratuitos: site CCBB Rio
Contato: (21) 3808 2020 |ccbbrio@bb.com.br

Digital:
Mundo Zira – Instagram
Instituto Ziraldo – Instagram / site oficial
CCBB Rio – Instagram – Facebook – Twitter – site


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Lima Barreto faz aniversário!

Em comemoração ao aniversário de Lima Barreto a articulista de Literatura é bom pra vista, Arilda Riani, nos presenteia com um texto sobre o autor. Lima nasceu num 13 de maio de maio de 1881 e morreu em 1 de novembro de 1922. Riani percorre com profunda intimidade a obra do aniversariante pra nos contar sobre sua vida e talento. Viva Lima Barreto! O patrono e a razão de existir do blog/fanpage Literatura é bom pra vista.

EU SOU AFONSO HENRIQUES DE LIMA BARRETO

Por Arilda Riani* (foto)

A obra de ficção de Lima Barreto é marcada com passagens para mostrar sua origem e a dos seus antecedentes, como a família outrora abastada de São Gonçalo, na referência que faz ao cirurgião-mor Manuel Feliciano Pereira de Carvalho:

“… com a morte do chefe da casa, filhos e filhas se transportaram para a Corte […] “Um dos irmãos […] era cirurgião do Exército, tendo chegado a cirurgião-mor”. (Clara dos Anjos).

Com a família, vieram só os escravos libertos, dentre eles a avó materna de Lima, Leocádia da Conceição, da segunda geração de escravos, filha da moçambicana Maria da Conceição, traficada para o Brasil em navio negreiro. Essa bisavó aparece como “Mãe Quirina”, que viera

“… ainda rapariguinha para aqui, onde tivera por seu primeiro senhor os Carvalhos de São Gonçalo” (idem).

Dona Amália, a mãe de Lima, morta quando o escritor tinha seis anos, de tuberculose.

Amália Augusta Pereira, sua mãe, era uma mulata agregada da família de Manuel Feliciano Pereira de Carvalho, conhecido à época como “Pai da Cirurgia Brasileira”, justificando os rumores que a apontavam como sua neta: 

“… foi com orgulho que verifiquei nada ter perdido das aquisições de meus avós. Desde que se desprenderam de Portugal e da África” (“Gonzaga de Sá, pág,40)

Quis o destino que seu nascimento tenha sido “em uma segunda-feira, 13 de maio de 1881 (“Diário Íntimo”), quando se comemora o Dia de Nossa Senhora dos Mártires e talvez este fato explique um pouco da sua vida de luta e sofrimento para se firmar como um romancista respeitado.  Foi batizado na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória em 13 outubro daquele mesmo ano, adotando a Santa como sua protetora. Por isso, quando se comemorava o Dia de Nossa Senhora da Glória não deixava de comparecer ao Outeiro da Glória para reverenciar sua madrinha e comprar medalhinhas da Santa, que guardou com carinho enquanto viveu.  

A Igreja Matriz N. Sra. da Glória, no Rio de Janeiro, onde o escritor e jornalista Lima Barreto foi batizado

Lima Barreto orgulhava-se de ser filho legítimo do tipógrafo João Henriques de Lima Barreto e neto da antiga escrava Carlota Maria dos Anjos. Mas seu infortúnio começou bem cedo, na primeira infância:

“… quando eu tinha seis anos, meu pai enviuvou e nós morávamos em uma casa muito pobre na Rua do Riachuelo” (Feiras e Mafuás).

Com a morte da mãe, sentiu-se completamente abandonado, como se tudo não passasse de um complô contra ele. Não gostava de brincar, ia para o colégio taciturno, calado, e se,

“pelo recreio, o contágio obrigava-o a entregar-se à alegria e aos folguedos, bem cedo se arrependia, encolhia-se e sentava-se, vexado a um canto” (Clara dos Anjos).

Ainda aos sete anos, depois de perder a mãe, “fui acusado injustamente de furto, quando tive vontade de me matar” (Diário Íntimo.)

 Com o pai, companheiro inseparável de toda sua existência, assistiu aos festejos da Abolição no dia do seu aniversário, 13 de maio, como sempre fazia questão de lembrar, no Largo do Paço, para testemunhar o acontecimento. Grande cronista que foi, Lima deixou no artigo “Maio”.  e em várias páginas dispersas na sua obra, uma página emocionada sobre o que vira naquela data de 1889:

“Na minha lembrança desses acontecimentos, o edifício do antigo Paço, hoje repartição dos Telégrafos, fica muito alto; […] e de lá, de uma das janelas, eu vejo um homem que acena para o povo”.

“Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação; palmas, acenos com lenços, vivas…

“Fazia sol e o dia estava claro. Jamais, na minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total; e os dias que se seguiram, dias de folganças e satisfação, deram-me uma visão da vida inteiramente de festa e harmonia”.

E continua com suas lembranças, agora da missa do Campo de São Cristóvão:

“Houve missa campal, no Campo de São Cristóvão. Eu fui também com meu pai; mas pouco me recordo dela, a não ser lembrar-me que, ao assisti-la, me vinha aos olhos a Primeira Missa, de Vitor Meireles. Era como se o Brasil tivesse sido descoberto outra vez… Houve o barulho de bandas de música, de bombas e girândolas, indispensável aos nossos regozijos; e houve também préstitos cívicos. Anjos despedaçando grilhões, alegorias toscas passaram lentamente pelas ruas. Constituíram-se estrados para baile populares; houve desfiles de batalhões de escolares e eu me lembro que vi a princesa imperial, na porta da atual Prefeitura, cercada dos filhos, assistindo àquela fieira de soldados a desfilar devagar. Devia ser de tarde, ao anoitecer”.

“Ela me parecia loura, muito loura, maternal, com um olhar doce e apiedado. Nunca mais a vi”.

“Eu tinha então sete anos e o cativeiro não me impressionava. Não imaginava o horror; não conhecia a sua injustiça. Eu me recordo, nunca conheci uma pessoa escrava. Criado no Rio de Janeiro, na cidade, onde já os escravos rareavam, faltava-me o conhecimento direto da vexatória instituição, para lhe sentir bem os aspectos hediondos.  

Era bom saber se a alegria que trouxe à cidade a lei da abolição foi geral pelo país. Havia de ser, porque já tinha entrado na consciência de todos a injustiça originária da escravidão.

Sobre o impacto do 13 de maio na meninada do colégio da Rua do Resende, comenta:

“Quando fui para o colégio, um colégio público, à Rua do Resende, a alegria entre a criançada era grande. Nós não sabíamos o alcance da lei, mas a alegria ambiente nos havia tonado. A professora, Dona Teresa Pimentel do Amaral, uma senhora muito inteligente. A quem muito deve o meu espírito, creio que nos explicou a significação da cousa; mas com aquele feito mental de criança, só uma cousa me ficou: livre! livre

“Julgava que podíamos fazer tudo que quiséssemos; que dali em diante não havia mais limitação aos propósitos da nossa fantasia.

“Parece que essa convicção era geral na meninada, porquanto um colega meu, depois de um castigo, me disse: “Vou dizer a papai que não quero voltar mais ao colégio. Não somos todos livres?

E conservou desse 13 de maio uma lembrança curiosa:

“Dos jornais e folhetos distribuídos por aquela ocasião, eu me lembro de um pequeno jornal […] Estava bem impresso, tinha vinhetas elzevirianas, pequenos artigos e sonetos. Desses, dois eram dedicados a José do Patrocínio e o outro à princesa. Eu me lembro, foi a minha primeira emoção poética a leitura dele. Intitulava-se Princesa e Mãe e ainda tenho de memória um dos versos:

                        “Houve um tempo, senhora, há muito passado…”

Com estes enxertos de crônicas de um dos maiores escritores brasileiros, Afonso Henriques de Lima Barreto, o Patrono desta página, que nunca ocultou sua origem de “mulato, livre e pobre”, queremos deixar a cada um dos nossos leitores sua mensagem de esperança.

É hora de despertarmos para qualquer tipo de palavra crítica ou olhar medíocre que transporte injustiça e preconceito, venha de onde vier: Uma coisa do passado que envergonha o Brasil, uma nação jovem e multirracial.

*Professora e doutora em Literatura e Língua Portuguesa.

Imagens: Internet

POR QUE SE COMEMORA O DIA DA LITERATURA BRASILEIRA EM 1 DE MAIO?

Nossa articulista e autora deste texto (foto) nos conta a razão e muito mais sobre Literatura e sobre o Dia da Literatura. Boa leitura!

A professora-doutora em Literatura e Língua Portuguesa Arilda Riani, articulista de Literatura é bom pra vista, brinda-nos com um Dia da Literatura cheio de literatos, a exemplo de Graciliano Ramos, Mario de Andrade, Guimarães Rosa, João Cabral (para quem, como nos conta a professora, “escrever é estar no extremo de si mesmo”).

Drummond também visita o artigo, quando Arilda escreve que o poeta considerava o fazer poético “uma luta cotidiana com o javali, tamanha a força da palavra”. Lima Barreto, o patrono e queridíssimo de Literatura é Bom pra Vista, também entra na roda, quando a articulista lembra que o grande amor do jornalista foi a literatura. Finalmente, chega a vez da razão de o Dia da Literatura ser comemorado em 1 de  maio: a data é aniversário do “pai da Literatura brasileira” José de Alencar. Alencar nasceu naquela data em 1829. Parabéns, então, ao nosso José  Martiniano de Alencar e à Arilda Riani por nos levar a conhecer mais e melhor sendas da nossa literatura brasileira.

O pai da Literatura Brasileira: José de Alencar.

“Literatura é a mais espiritual das artes, “não só por se servir do mais espiritual dos instrumentos – o     verbo, mas ainda por visar o mais espiritual dos efeitos – a expressão da alma humana e a representação da vida em geral, traduzida em seu reflexo no espírito” (Tristão de Ataíde, in Teles, 1980:69).

Lima Barreto queimou navios e deixou tudo, tudo, por essas coisas de letras.

A Literatura abrange, na sua essência, a arte literária. É ela que documenta a criação literária e assegura com a sua vitalidade o patrimônio histórico de um povo.  Como tal, a língua literária do Brasil não se firmou de um dia para o outro. Passou por um vagaroso processo, próprio da dinâmica das línguas, e só depois de muita polêmica encontrou uma solução que atenderia os propósitos dos brasileiros: a língua literária ao estilo brasileiro.

João Cabral: “Escrever é estar no extremo de si mesmo”.

Dominar essa língua não foi tarefa fácil aos nossos escritores. Tiveram que provar domínio do vocabulário, da gramática, da ortografia, boa dose de criatividade e de conhecimento do mundo para deixar a mensagem da sua vivência, do que entendiam por “arte literária” ou “arte da palavra”, como o fez Graciliano Ramos na prestação de contas da Prefeitura de Quadrângulo, uma verdadeira joia literária, embora texto científico, técnico, com termos precisos de área específica, como nas bulas com sua linguagem fechada a quem não domina o assunto, mas entende as linhas gerais da prescrição.

Mario de Andrade afirmava escrever “com fogo”.

Para Mário de Andrade escrever era pura intuição. Escrevia “sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita, e pensava depois não só para corrigir, como para justificar o que escrevi”. Nesses momentos eu escrevia com fogo. Tudo vinha dócil, pressentido com ardor apaixonado”. Assim foi com a maior parte da sua produção e com “Macunaíma”, escrito em poucas horas de ininterrupto trabalho intelectual na procura de uma estética literária apurada para mostrar sua visão do mundo. Com João Guimarães Rosa não era diferente. Em um dos seus prefácios segreda que desde cedo se viu cercado de toda sorte de avisos, pressentimentos e mistérios, e que no plano da arte e da criação não foi diferente. Às vezes a inspiração vinha “pronta e brusca” em estórias diferentes entre si no modo de surgir. Havia momentos que era só levantar as mãos para alcançá-la; em outras ocasiões ela caía já pronta no papel enquanto brincava com a máquina de escrever, ou então era ditada e sustentada “por forças ou correntes muito estranhas”. Nesses momentos, ele se deixava conduzir para só depois fazer pequenos ajustes. Uma das páginas mais importantes da sua criação está na “engenharia” da estória “Curta mão”, com o narrador a se colocar como um “mestre arquiteto”.

Drummond: “Luta cotidiana com o javali, tamanha a força da palavra”.

Para o racional João Cabral de Melo Neto “escrever é estar no extremo de si mesmo”, é uma operação minuciosa, comparada ao ato de catar cada grão do feijão na busca da inspiração e da palavra certa para colher as primeiras impressões e burilá-la em forma e conteúdo, combinando e selecionando tudo com rigor para identificar o grão que boiará como “água congelada, por chumbo seu verso”, para depois “jogar fora o leve e o oco, palha e eco”.

Guimarães Rosa: “Às vezes a inspiração vinha pronta e brusca”.

Como o pernambucano João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade considera o fazer poético uma luta cotidiana com o javali, tamanha a força da palavra. Esse processo criador aparece em várias fases da sua extensa obra, ora como o poeta que canta o tempo presente, os homens e a vida, ora o poeta que constata que vive em “um tempo que a vida é uma ordem”. No poema “O Lutador”, o poeta luta para

atrair a palavra certa, para tirar a pedra do meio do caminho que a todo custo dificulta encontrar a palavra em estado de latência. A chave da sua arte literária está em alcançar o objetivo artístico, estético e conceitual da palavra.

A Literatura foi o grande amor de Lima Barreto, levando-o a declarar“queimei os meus navios; deixei tudo, tudo, por essas coisas de letras”. Para ele, Literatura e Arte se combinam e não podem estar dissociadas da função social, por isso não se curvou à estética literária da sua época para ser reconhecido no meio acadêmico. A linguagem voltada para o povo e para personagens marginalizados desagrada aos críticos, que não percebem nela os primeiros vestígios da oralidade. Mas ele sabia que seus supostos defeitos de escritor estavam no academicismo da época, “nos tais clássicos e sabedores de gramática”, que ele respeitava tanto quanto “qualquer toco de pau podre por aí” … É com a palavra que o jornalista Lima Barreto reforma, levanta julgamentos esquecidos, difunde e discute o sofrimento da humanidade sem se preocupar com a forma, porque entendia a Literatura como instrumento de comunhão entre os homens de todas as raças e classes sociais.

Mas não tem como não citar neste primeiro de maio, quando se comemora o “Dia da Literatura Brasileira”, JOSÉ DE ALENCAR, pai de “Iracema”, de Peri e Ceci, de Lucíola, de Diva, da “Viuvinha” e de tantas outras personagens que preencheram o nosso imaginário.

José de Alencar, o “Pai da Literatura Brasileira”, o cearense bom de briga que em meados do século XIX enfrentou a ironia dos donos da língua portuguesa para fazê-los ver que o Brasil já produzia literatura própria e uma variante poderosa, infiltrada nos hábitos dos seus falantes. Uma variante com desvios linguísticos, variações dialetais, transformações sintáticas e uma prosódia completamente diferenciada da portuguesa, que só aquele cidadão não via ou não queria ver, porque viera do povo, com a linguagem que aprendemos de nossos pais.

 Graciliano Ramos fez “em texto científico de prestação de contas uma verdadeira joia da palavra”.

Ainda hoje o escritor brasileiro é visto com maus olhos pelos editores portugueses, que se recusam a publicar suas obras com a justificativa de que escreve mal e sem estilo. E nunca é tarde repetir com José de Alencar: “se nós, os brasileiros, escrevêssemos livros no mesmo estilo e com o mesmo sabor dos melhores que nos envia Portugal, não passaríamos de uns autores emprestados; renegaríamos a nossa pátria, e não só ela, como a nossa natureza, que é o berço dessa pátria”.

literatura brasileira

No Dia da Literatura Brasileira, 01 de Maio, confira 4 autores que mais são cobrados no vestibular


Professor de Literatura Alencar Schueroff lista obras que mais caem nas provas para ingressar na universidade
 

Viva a Literatura Brasileira!!

Hoje é celebrado o Dia da Literatura Brasileira, e um grande número de estudantes está se preparando para o vestibular e um dos pontos da preparação desses alunos é a leitura obrigatória dos livros clássicos cobrados nas provas, são mais de 10 obras literárias em cada uma das instituições.

“São tantos assuntos que os candidatos têm que se preparar, por isso às vezes acabam deixando as leituras obrigatórias passarem. A minha dica é começar o quanto antes para não virar uma ‘bola de neve’ e conseguir focar em outros blocos”, aconselha o professor Alencar Schueroff.
 O docente separou 4 autores mais cobrados nos vestibulares:
 

Machado de Assis

Machado de Assis é um autor clássico brasileiro (1839 – 1908), “Machado é um dos autores clássicos que mais são pedidos nas provas, e suas obras estão presentes por sua habilidade em explorar temas universais, com diversos tipos de texto, contos, crônicas, poemas e romances” conta Schueroff.
 

As obras Quincas Borba (Fuvest e UERJ), Várias histórias (UFRGS), Casa Velha (Unicamp) e Memórias Póstumas de Brás Cubas (UFGD) são os livros do autor que estão nas listas de leituras para as provas.

Paulina Chiziane

Paulina Chiziane é uma destacada escritora moçambicana, nascida em 4 de junho de 1955. Ela é conhecida por ser a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. Sua obra literária é marcada por uma profunda exploração das questões sociais, culturais e de gênero em Moçambique. “é uma voz proeminente na literatura africana contemporânea, utilizando sua escrita para explorar temas sociais relevantes e promover a igualdade de gênero em sua sociedade”, diz o professor.
 

Niketche: uma história de poligamia está na lista de três vestibulares – UNICAMP, UFRGS e UEL.

Ruth Guimarães

Ruth Guimarães foi uma escritora paulista (1920 – 2014), ela é conhecida por sua contribuição à literatura afro-brasileira, abordando temas relacionados à cultura negra e às questões sociais. Ela destacou-se por seu engajamento na promoção da diversidade étnica na literatura. “Ruth Guimarães foi uma contadora de histórias incrível, trazendo a vida e as tradições da cultura afro-brasileira para suas páginas”, conta.

Um de seus livros, o título Água Funda, está presente nas listas Fuvest e UFRGS.

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa foi um poeta clássico (1888 – 1935), “É um dos nomes mais requisitados nos vestibulares, e sua obra tem presença constante por um motivo: sua extraordinária habilidade em explorar diferentes perspectivas e temas através de uma multiplicidade de vozes literárias. Seja nas suas poesias, nas prosas ou nos heterônimos que criou “, diz.
 

Melhores poemas (UEL) e Tabacaria – poema – (UFGD) serão cobrados nos vestibulares.
 

Imagem: Internet

dia da literatura brasileira

Em 1º de maio, é comemorado o Dia da Literatura Brasileira. Nessa data, que também marca o nascimento do escritor José de Alencar, celebram-se a literatura nacional e seus autores. O Ministério da Educação (MEC) ampliou os investimentos no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), que chegou a R$ 2,1 bilhões em 2024. O valor é 79% maior do que foi investido para o ano letivo de 2023, segundo levantamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao MEC. Para o ano letivo de 2024, o programa distribuiu 194,6 milhões de exemplares, a fim de atender mais de 31 milhões de estudantes.  

A Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC é responsável pela avaliação pedagógica do PNLD. Para a secretária da SEB, Kátia Schweickardt, o programa, que tem mais de 80 anos, é uma política verdadeiramente equitativa, pois chega, sem distinção, a todos os lugares do Brasil, dos interiores aos grandes centros urbanos. “Essa política atravessou a história brasileira garantindo importantes direitos e também foi se atualizando. A escola é um lugar de encontro de saberes, e o material didático deve ser a mediação desse encontro. Sendo assim, os professores das redes são peças-chave na escolha dos títulos que chegarão até as escolas”, destacou.  

Os livros didáticos chegam a todas as escolas públicas do Brasil por meio do PNLD, que compreende um conjunto de ações voltadas à distribuição de obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, destinados aos alunos e professores das escolas públicas de educação básica do País. Desde 2021, o programa conta também com materiais digitais.  

O Programa Nacional do Livro e do Material Didático é fruto da evolução de movimentos fundamentais de garantia de conteúdos de qualidade para as escolas brasileiras, desde 1937. Hoje o PNLD é um dos principais suportes para a aprendizagem em todo o Brasil, beneficiando não só escolas públicas, mas também instituições comunitárias, confessionais e filantrópicas conveniadas com o poder público.     

Retirado de: https://www.gov.br/mec/pt-br

Foto: https://www.gov.br/mec/pt-br