QUESTÃO DAS VACINAS

Por Arilda Rianni, professora-doutora em Literatura e Língua Portuguesa e articulista de Literatura é bom pra vista.

Um passeio pelo passado vai mostrar como a febre amarela, o vírus que aterrorizou o Brasil Império e a Primeira República, espalha-se pelo território do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e encontra no sanitarista Oswaldo Cruz a voz que clama por medidas de prevenção para conter a epidemia. Em 1904, depois de promover caçada aos ratos que infestam a cidade, estamos falando dos mamíferos pertencentes à ordem dos roedores, Dr. Oswaldo Cruz* consegue aprovação do Senado para iniciar a vacinação.

O sanitarista Oswaldo Cruz (acervo Fiocruz).

Uma sucessão de tumultos contribui para a explosão no dia 10 de novembro do que se conhece como a “revolta da vacina”. Na liderança da malta inconformada estão os negacionistas, políticos da Primeira República alijados do poder, a conclamar o povo para reagir à bala; Ruy Barbosa a pregar que vacina obrigatória era lei morta; a imprensa atiça os ânimos contra os brigadistas que avançam ferozes sobre o povo, qual bicho do mato acuado na toca escura, que sem ter quem o defenda se recolhe aos cortiços, onde é vacinado à força.

Por trás dessa corrente poderosa estão os militares na pretensão de aproveitar a rebelião para proclamar um governo ditatorial, dentro das quatro linhas; está a política econômica do Governo de Campos Sales, incapaz de conter o aumento do custo de vida e deixando o povo cada vez mais pobres; está a discussão da necessidade de transformações urgentes na economia… E estão as vozes ávidas por transformações urbanísticas para tornar o Rio de Janeiro a “Paris dos trópicos”!

 A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Foto Simone Kabarite.

A Escola Militar da Praia Vermelha, sob o comando de altos escalões do Exército, incentiva os alunos a partirem armados para as ruas. Em resposta, os navios de Campos Sales bombardeiam e destroem aquele prédio, e por vários dias as ruas da capital federal são ocupadas por barricadas, postes de iluminação destruídos, bondes derrubados, paralelepípedos revolvidos para depredações, comércio saqueado e muita confusão, transformando o centro da cidade em campo de batalha. Grupos de arruaceiros alcançam a Praça da República atirando a esmo e aos gritos de palavras hostis à força policial, à vacina obrigatória, ao custo de vida. Chegam às ruas da Gamboa, atacam propriedades públicas e particulares com apedrejamentos e avançam em direção ao bairro de São Cristóvão ferindo à bala de carabina muitas pessoas e provocando uma dezena de mortos. As tropas leais a Campos Sales sufocam o levante, surram inocentes, prendem desocupados e sumariamente os despacha em porões de navio com destino ao Acre.

A Revolta da Vacina (acervo Fiocruz)

Em 1908, o que restou do prédio da Escola Militar dá lugar à Exposição Nacional; o Morro do Castelo está parcialmente demolido com a intervenção urbanística “bota-abaixo” de Pereira Passos para mostrar ao mundo o Rio de Janeiro “catita”, como escreveu Lima Barreto, urbanizado e livre da febre amarela!

Lima Barreto: “Rio de Janeiro catita.

A medida saneadora de Oswaldo Cruz não elimina totalmente os “ratos”, mas saneou a cidade do Rio de Janeiro, livrando-a da febre amarela.

Depois de tanta pancadaria, o carioca sentiu na pele que a vacina, venha de onde vier, é sua grande aliada.

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