DE CASA,VISITE UMA PINACOTECA NA ITÁLIA

BEeIJO

Nestes tempos de quarentena, Literatura é bom pra vista tem postado endereços para visitas virtuais a locais que respiram histórias, artes e culturas. No dia 27 de abril, Literatura é bom pra vista postou o endereço virtual* para visitas às tumbas e tesouros de faraós, no Egito. Agora, vamos à Itália visitar a Pinocoteca de Brera, sem sair do sofá. Uma reprodução da pintura, que ilustra este texto, está no acervo virtual da Pinacoteca. Chama-se O Beijo e foi pintada por Francesco Hayes (1791-19882). Nascido de família humilde, em Veneza, o artista foi considerado um dos maiores expoentes do Romantismo Italiano.Francesco

Foto da imagem do pintor Hayes : internet

FIQUE EM CASA E VISITE A TUMBA DE UM FARAÓ

RamsesVI

Para quem adora o Egito Antigo e sua história, estão no ar visitas virtuais por seis tumbas*. O Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito, em parceria com instituições de pesquisa e de formatação de realidade virtual aumentada, disponibilizou roteiros de 360 graus. O internauta pode se sentir dentro da tumba, sentadinho em sua casa. A mais impressionante delas é  tumba (foto) do faraó Ramsés VI (imagem à direita), que governou o Egito de 1143 a 1136 a.C, no Vale dos Reis. Vá, então, um instantinho ao Egito da sua sala em: https://my.matterport.com/show/?m=o5Ex5Xo7UkE.

História Antiga do Egito é bom pra vista.

Tumba de RamsesVI

*Podem ser visitadas as tumbas de Meresankn III, Mena, Whati e a Pirâmide de Djoser, a mais antiga de todas, com 4.700 anos.

Foto e imagem internet

O OUTRO: ESTE NÃO-EU QUE O OBSCURANTISTA QUER ELIMINAR

obscurantiismo medieval

Pedir a volta do AI-5 e, por conseguinte, da ditadura. Defender com veemência que o esférico planeta Terra é plano, acusar universidades —  espaços de ciência, pesquisa e cultura por definição e razão de ser — de locais de balbúrdia, desprezar o conhecimento, os direitos humanos, fazer da própria crença uma arma contra o outro tornaram-se práticas rotineiras entre muitos, nestes últimos tempos.  Muitos mesmo a empunhar bandeiras, como faziam os cruzados da Idade Média, entre os séculos X e XXII, que matavam e morriam em nome de Deus.  No longo curso da História, a intolerância obscurantista tem estado presente nas relações humanas, fundadas em sentimentos e crenças religiosas.

São obscurantistas os que aclamam o mal, em nome de um suposto bem: obscurantismo vem do latim, obscurans, escurecimento. Não por acaso estas gentes se apegam à ignorância, tal qual um dogma, tal qual um amuleto para protegê-los da luz que representa o saber, a sabedoria, a cultura. O amuleto do obscurantismo serve para protegê-los também de quem for diferente deles, de quem pensar diferente deles: o não-eles,  o outro, a ser intolerado.

INTOLERÂNCIA

Outro é todo aquele que nada sabe sobre o que os obscurantistas decidem ser relevante (ou não) para ser sabido. Melhor dizendo, outro é aquele que não está do lado certo — o dele, obscurantista.  Outros nada sabem ou conhecem  aquilo que que mereça ser sabido e permitido saber (todo obscurantista é um censor).  Ao contrário dele, obscurantista, que sabe o que saber e o que não saber. A alteridade não faz parte de sua formação humana.

Neste caldo de obscurantismo e intolerância, o outro seria também um herege, isto é, aquele que vive na heresia. A palavra vem do grego e significa escolha. Hereges fariam, então, por exemplo, más escolhas relativas aos ensinamentos de Deus, ou melhor, às interpretações que se dão àquelas que seriam as palavras de Deus e a religião (a dele) está entre um dos temas mais caros ao obscurantista.

Estas gentes que portam  amuletos obscurantistas deploram investimentos em educação, ciência, cultura, arte. Nomeiam-se pessoas de bem. Costumam desprezar o meio ambiente e agredir, com palavras, gestos e atitudes minorias, negros, mulheres: um não-ele qualquer que seja e que não carregue um breve obscurantista  tal qual o que o obscurantista porta com orgulho. Obscurantistas só possuem certezas. A dúvida saudável da incompletude do conhecimento, com seu eterno e delicioso sabor de ‘quero mais’ não os encanta. Na verdade, apavora-os. Têm-se como virtuosos e superiores aos demais em suas crenças e opiniões.  Sim, opiniões. Não ciência ou conhecimento. Sim, crença, que se insere na ordem do mágico. A superioridade que se arvoram leva-os a chamar preconceito de ‘mimimi’ e vitimismo de quem o sofre.

Estas gentes obscuras com seus patuás do obscurantismo não têm qualquer pudor, empatia ou fraternidade com a dor do não-ele, que é outro. E por quê? Porque este outro é um inimigo a abater, eliminar, excluir, anular, apagar, banir, extinguir.  Vocábulos que fazem parte do limitado campo semântico do obscurantista. Exemplos sobram: numa passeata pela volta da ditadura, há poucos dias, um obscurantista bateu fortemente numa mulher tão somente porque a vítima discordava da passeata. No auge de uma pandemia, há quem faça carreatas chamando os que estão em casa, em quarentena, por recomendação do Ministério da Saúde, de vagabundos e preguiçosos.

terra plana

O absurdo da  terra plana

Há também quem vá para a rua e diga que é só uma gripezinha. Isto diante de mais de três mil contaminados e perto de 200 mortos pela Covid 19 (os números são do Ministério da Saúde, na segunda semana de março de 2020). Mas obscurantistas, primeiro, negaram  os números, as  mortes e a doença. Diante de cada vez mais gente morta a cada dia, afirmam que há um medicamento panacéia, para curar o mal. Sem qualquer suporte científico, remorso ou vergonha, postam fakenews aos montes em suas redes sociais, prestando um desserviço à população. Para os obscurantistas, não importam as consequências irresponsáveis de seus gestos, desde que suas certezas sigam incólumes.

Gentes obscurantistas são incapazes de amar o diferente. Tampouco de sofrer pela dor do outro. Se pudessem, estes inquisidores do século XXI  nos fariam arder em fogueiras, caso não negássemos o heliocentrismo, tal qual fez Galileu (1564-1642).

GALILEU GALILEI

Galileu

John Locke  (1632-1704) e Voltaire (1694-1778) trataram especificamente do tema intolerância, uma das principais formas de obscurantismo em seus pressupostos filosóficos, em séculos diferentes. O primeiro, em 1689, e o segundo em 1763. Locke escreveu uma Carta acerca da Tolerância e Voltaire, um Tratado sobre a Tolerância.

locke

Locke

Locke escreveu sua carta em uma época conturbada para ele. Fugira para a Holanda porque na Inglaterra era acusado de fazer parte de conspirações para matar o rei Carlos. Além disso, também assistira aos conflitos entre religiosos de diferentes credos, deflagrados pela intolerância religiosa de cada um. Para o iluminista Voltaire, a Igreja Católica era o símbolo supremo da intolerância e da injustiça.  O pensador trata da tolerância aliada ao respeito, à solidariedade. Para ele, a tolerância só pode ser exercida se a razão e o conhecimento  forem capazes de injetar luz nas trevas da ignorância, do preconceito e do fanatismo, sobretudo o religioso, que fazem intolerantes notáveis: na França de Voltaire, aqueles que não eram católicos, eram duramente perseguidos. A intolerância religiosa era tanta que, em 1787, Luis XVI publicou um edital de tolerância, para proteger os não católicos.

locke

Voltaire

Pode-se intuir dos dois pensadores que a boa convivência, aliada ao conhecimento, leva-nos a posturas éticas, como o respeito às diferenças: de etnia, cultura, sexo, credo, embora Locke defendesse a separação entre Igreja e Estado e Voltaire a subordinação da Igreja ao Estado.

O Iluminismo e a tolerância vencerão novamente e obscurantismo vai ser superado.

FOTOS: internet.

 

 

 

 

FERNANDO PESSOA: O MENINO JESUS

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Que este poema de Fernando Pessoa nos acalente, console e fortaleça nos dias que virão, e que cada um destes dias nos sirvam de reflexão. Literatura é bom pra vista deseja uma boa Páscoa para todos os seus leitorxs.

Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.

Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
“Se é que ele as criou, do que duvido” —
“Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.”
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.
………………………………………..

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Fernando Pessoa (1888-1935)

 

 

AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA

GALEANO

“Segundo a voz de quem manda, os países do sul do mundo devem acreditar na liberdade de comércio (embora não exista), em honrar a dívida (embora seja desonrosa), em atrair investimentos (embora sejam indignos) e em entrar no mundo (embora pela porta de serviço). Entrar no mundo: o mundo é o mercado. O mercado mundial, onde se compram países. Nada de novo. A América Latina nasceu para obedecê-lo, quando o mercado mundial ainda não se chamava assim, e aos trancos e barrancos continuamos atados ao dever de obediência. Essa triste rotina dos séculos começou com o ouro e a prata, e seguiu com o açúcar, o tabaco, o guano, o salitre, o cobre, o estanho, a borracha, o cacau, a banana, o café, o petróleo… O que nos legaram esses esplendores? Nem herança nem bonança. Jardins transformados em desertos, campos abandonados, montanhas esburacadas, águas estagnadas, longas caravanas de infelizes condenados à morte precoce e palácios vazios onde deambulam os fantasmas”.  Autor de mais de 40 livros sobre ficção, política e História, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) escreveu sua obra-prima, As veias abertas da América Latina, em 1971, da qual Literatura é bom pra vista publica este trecho e também o link para a leitura completa da obra:

(http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/BibliotecaDigital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/As-Veias-Abertas-da-America-Latina.pdf)

VEIAS

Fotos: Internet

 

 

 

 

 

 

SOMOS UM MAR DE FOGUEIRINHAS

fogueira

“O mundo

Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo”.

EDUARDO GALEANO

Nestes tempos de abraços e beijos virtuais,  Literatura é bom pra vista foi buscar inspiração e alento em O Livro dos Abraços,  do jornalista e escritor uruguaio Eduardo GaleAno (1940-2015), e publica para seus leitores,alguns trechos da obra, bem como o link para o acesso completo do livro. A publicação transita entre o fantástico, a poesia e o relato, causando-nos encantamento e nos fazendo sentir abraçados, em escritos curtos sobre tudo.

https://www.anarquista.net/wp-content/uploads/2013/03/O-Livro-dos-Abra%C3%A7os-Eduardo-Galeano.pdf.

 

Clique para acessar o O-Livro-dos-Abra%C3%A7os-Eduardo-Galeano.pdf

 

Fotos: internet