PAGU, PAGU, PAGU, PAGU, PAGU

Pagu
Patrícia Rehder Galvão, a Pagu (1910-1962), foi a primeira presa política do Brasil. Militava no Partido Comunista Brasileiro e sua militância lhe rendeu mais de 20 prisões. Fumava na rua, falava palavrões, escrevia. Escrevia. Muito e muito bem. Foi uma das grandes mulheres do modernismo brasileiro. Foi também casada com Oswald de Andrade. Sob o pseudônimo de Mara Lobo, publicou Parque Industrial, em 1933, primeiro romance proletário da literatura brasileira. O livro foi lançado nos Estados Unidos. Pagu deixou o marido Oswald e o filho Rudá e seguiu para a Europa onde atua como repórter. Entrevistou ninguém menos que Sigmund Freud. Estudou na Sorbonne, filiou-se ao Partido Comunista Francês e foi presa mais uma vez por estar com documentos falsos. Morre de um câncer, no Brasil, em 1962.

Literatura é bom pra vista vai sortear o livro Pagu, Vida e Obra, de Augusto de Campos, entre os  50 primeiros leitores que postarem aqui sobre a escritora.

DEMOCRACIA, SIM. DITADURA, JAMAIS.

ditadura1

Há 55 anos, na madrugada de 31 de março,  presidente eleito João Goulart  foi derrubado por um golpe militar e o Brasil iria conhecer uma ditadura que durou 21 anos:

“O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu interinamente a presidência, conforme previsto na Constituição de 1946, e como já ocorrera em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros. O poder real, no entanto, encontrava-se em mãos militares. No dia 2 de abril, foi organizado o autodenominado “Comando Supremo da Revolução”, composto por três membros: o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo (Aeronáutica), o vice-almirante Augusto Rademaker (Marinha) e o general Artur da Costa e Silva, representante do Exército e homem-forte do triunvirato.”*

golpe-militar-1024x549

Tortura, suspensão do direito ao habeas corpus, censura a jornais, proibição de livros, fechamento do Congresso em diversas ocasiões,  parlamentares cassados, como Marcio  Moreira Alves, do MDB.  O povo estava proibido de votar para cargos do Executivo. Só se podia votar para o Legislativo, que teve parlamentares não eleitos, isto é, que entraram, sem voto, no Congresso, escolhidos unicamente pelos militares. Estes políticos ficaram conhecidos como biônicos. É um fato histórico que não pode passar em branco: a limitação e a proibição de direitos civis e políticos** dos cidadãos brasileiros. Brasileiros mortos, desaparecidos, torturados. Ditadura nunca mais. Democracia, sim. Sempre.  Democracia é bom pra vista. Pra tudo.

marcio moreira alves                    O ex-deputado e jornalista Márcio Moreira Alves

 

*Os direitos civis são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade privada e à igualdade perante a lei. É o direito de ir e vir e de liberdade de expressão e pensamento. O direito de não ter sua casa e seus bens violados e o de ser julgado e encarcerado apenas pela autoridade civil estabelecida pela lei vigente e após processo legal. Os direitos políticos garantem a participação do cidadão no governo. É o direito de eleger e de ser eleito. Realizar manifestações políticas e mesmo fundar partidos políticos.

** https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Golpe1964

 

A SOPRANO BIDU SAYÃO

bidu-sayao_a449518_4qWFfWD

A soprano carioca Balduína de Oliveira Sayão (1902-1999 ), a nossa Bidu Sayão estudou canto com uma romena que a levou para a Romênia. Bidu seguiu estudando canto e segiu para a França. Desta vez, o professor seria um polonês. A soprano voltou ao Rio em 1926 para interpretar Rosina em O Barbeiro de Sevilha.

“Bidu Sayão foi a responsável pela estreia da Bachianas Brasileiras no5, de Villa-Lobos nos EUA, em concerto com a Filarmônica de Nova York regido pelo maestro Walter Burle Marx, em 04 de maio 1939. Foi condecorada pelo governo dos EUA por suas apresentações para as tropas americanas durante a Segunda Guerra Mundial. Retirou-se dos palcos em 1958. No ano seguinte foi requisitada por Villa-Lobos para a gravação de Floresta Amazônica, uma obra retrabalhada pelo compositor a partir da trilha sonora que havia escrito para o filme Green Mansions(1959) de Mel Ferrer e estrelado por Audrey Hepburn para a Metro-Goldwyng Mayer. O registro se tornou antológico e com ele Bidu Sayão encerrou definitivamente sua carreira” *

*http://www.abmusica.org.br/academico.php?n=bidu-sayao&id=51

Todo mês é mês da mulher em Literatura é bom pra vista. Março é só uma desculpa.

A SOLDADO MARIA QUITÉRIA

RETRATO DE MARIA QUITÉRIA DE JESUS MEDEIROS_FAILUTTI, DOMENICO

Primeira mulher a fazer parte do exército brasileiro, disfarçada de homem , a baiana Maria Quitéria de Jesus (1782-1853) é considerada a heroína da nossa Independência. A moça se uniu às tropas que lutavam contra os portugueses em 1822. Para tal, ela utilizou o nome de um cunhado e ficou conhecida como o soldado Medeiros. Foi descoberta, depois de seu pai contar a seus superiores que o sodado Medeiros era uma mulher. Mas não a expulsaram. Quitéria ganhou o respeito dos outros praças pela disciplina e por manejar muito bem as armas.

Todo mês é mês da mulher em Literatura é bom pra vista. Março é só uma desculpa.

A pintura de Maria Quitéria é de Domenico Failutti

BERTHA LUTZ:”MULHER NÃO É BRINQUEDO”

 

thumbnail_IMG_20190322_203645_DRO

“(…) uma das maiores forças de emancipação e progresso está em nosso poder: a educação da mulher e do homem. Dela, para que seja intelectualmente igual. Dele, para que acostume a pensar que mulher não é brinquedo para o distrair; para que, olhando sua esposa, suas irmãs e lembrando-se de sua mãe, compreenda e se compenetre da dignidade da mulher”. Bertha Lutz (fonte: livro Brasil Feminino, editado pela Biblioteca Nacional, originalmente publicado em Cartas de Mulher, RJ: Revista da Semana, 28 dez, 1919.

Bertha_Lutz_1925

A paulista Bertha Lutz (1894-1976) era bióloga e ativista do feminismo. Formou-se também em Direito. Em 1919 criou a Liga para a Emancipação da Mulher. Em 1934, candidatou-se à Câmara dos Deputados, mas não consegue se eleger. Bertha só entrará para o Parlamento em junho de 1936, após a morte do deputado Cândido Pessoa, de quem era suplente. A parlamentar lutou e se empenhou pela aprovação da legislação do voto feminino, conquista obtida pelas mulheres brasileiras em 1932.

Sobre o voto feminino no Brasil:

https://www.todamateria.com.br/voto-feminino-no-brasil/

 

A FEMINISTA NÍSIA FLORESTA

 

thumbnail_IMG_20190322_193606_DRO

“Eu pretendo somente fazer ver, que meu sexo  não é tão desprezível quanto os homens querem fazer crer e que nós somos capazes de tanta grandeza d´alma como os melhores desse sexo orgulhoso: e estou mesmo convencida que seria vantajoso para os dois sexos pensar desta maneira (…) Brasil Feminino, editado pela Biblioteca Nacional. Texto de Nísia Floresta, publicado originalmente em Direitos das mulheres e injustiça dos homens.

A escritora Nísia Floresta (1810-1885) foi uma defensora incansável do  abolicionismo, do sistema republicano de governo e do feminismo.  Dirigiu um colégio para meninas no Rio de Janeiro, escrevia artigos em jornais sobre os direitos das mulheres , defendia a educação para todas as mulheres.Nísia é considerada a precursora do feminismo no Brasil.

Todo mês é mês da mulher em Literatura é bom pra vista. Março é só uma desculpa.

 

DIA DA MULHER COM SILVANA MANSANO E LIMA BARRETO

Silvana

No dia da Mulher, comemorado neste 8 de março, Literatura é bom pra vista publica a entrevista com Silvana Mansano e homenageia todas as mulheres, que são capazes de fazer tudo ao mesmo tempo, sempre, sem perderem o charme, a garra, bem como o orgulho de serem mulheres.

Trabalhando muito, apaixonada por animais e pelo queridinho de Literatura é bom pra vista, o genial Lima Barreto, a advogada Silvana Mansano acumula suas tantas tarefas diárias a um mestrado na Universidade de Marília. O tema de sua pesquisa? Lima Barreto, claro!

Única filha entre quatro irmãos, ela adquiriu sua paixão pela leitura e seu prazer de ler, graças ao pai, dono de um pequeno comércio. Embora tivesse pouquíssima instrução formal, ele presentou sua garotinha com quase todos os livros do Monteiro Lobato (em domínio público, a partir de 2019). Silvana tinha então sete anos e era estimulada pelo pai a contar todas as aventuras dos fantásticos personagens de Lobato. Enquanto trabalhava duro no armazém para sustentar a família, aquele pai ouvia, orgulhoso, sua filha narrar as diabruras da boneca Emília e as feitiçarias da Cuca.

Já na adolescência, esta paulista da cidade de Marília descobriu e se encantou com Érico Veríssimo. “Mas foi com Lima Barreto, após um trabalho que fiz na escola sobre Policarpo Quaresma, que passei a ter um olhar muito diferente sobre as mazelas do Brasil”, recorda.

Com 16 anos, mudava-se para Campinas e iniciava uma faculdade de Direito. Não gostou muito, mas seguiu em frente. “Sabia que não era exatamente aquilo que eu queria”, diz.  Tanto sabia que prestou vestibular para Letras no ano seguinte e foi aprovada. Silvana peitou as duas faculdades ao mesmo tempo. Três anos depois, com os estágios obrigatórios em Direito, precisou interromper o curso de Letras.

Concluído a graduação, partiu para uma pós-graduação em Direito Tributário. Advogou em diversos escritórios em Campinas e foi professora substituta. Por alguns anos se afastou da profissão, trabalhando como voluntária em projetos sociais na região Norte e Nordeste do país. Em 1996, foi, como voluntária, à Guatemala, fazendo parte do grupo de apoio da Cruz Roja, onde permaneceu por quase dois anos. Ao retornar ao Brasil, voltou a advogar em diversos escritórios na cidade de São Paulo. Mas a literatura já estava entranhada nela e não pensava em arredar o pé.

“O salário era muito bom e nada me faltava, mas nunca fui feliz e realizada na advocacia, era um imenso desconforto. Fui adiando uma nova interrupção, sempre tendo a literatura como refúgio seguro. O poder aquisitivo sempre foi mediano, mas com a advocacia pude me dar ao luxo de entrar nas livrarias sem me preocupar muito com os preços. No entanto, trabalhava tanto que pouco tempo sobrava para ler tudo que comprava”, lamenta.

Com a doença do pai, Silvana retornou a sua cidade natal, parando, mais uma vez, de advogar. Foi neste período que também voltou a ler Lima Barreto com maior atenção. Ela tinha todos os livros do autor. Fez releitura dos seus preferidos: Policarpo, M. J. Gonzaga de Sá, Marginália, Bruzundangas. Havia, contudo, um livro de Barreto, em especial, que sempre a inquietou: Clara dos Anjos.

‘Não era meu preferido, mas era o que me aguçava a curiosidade de saber mais da personagem, saber aquilo que Lima Barreto não desvendava de imediato e também entender a angústia do escritor na retratação daquele ambiente e daquela protagonista. Mas isso ficou na memória, em alguma gaveta que nem me lembrava mais”, conta.

E a Literatura continuava nela, respirando, quietinha.

Os anos correram a passar, a passar. Seu pai se foi e quem adoeceu foi sua mãe. Para tentar sobreviver a essa conturbada fase de sua vida, Silvana decidiu que era hora de tentar um novo rumo profissional na vida. Já estava com mais de 40 anos, não queria voltar a advogar. Decidiu, então, retornar ao curso de Letras. Como não havia essa opção na única universidade pública da cidade, optou por Ciências Sociais, área que estimula o estudo da literatura.

“O ingresso em um novo curso foi o sopro que faltava. Sou apaixonada por política e, exatamente por isso, achei que seria muito passional se estudasse o tema. Não teria a isenção necessária para me aprofundar em um estudo mais técnico. Por outro lado, os dilemas que cercaram a inserção da mulher negra, depois da abolição, sempre me chamaram a atenção. Eu queria entender como isso se deu em um ambiente urbano”.

Ao se preparar para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) já sabia o que ia estudar, mas não conseguia refinar seu objeto, pois não encontrava material que lhe agradasse. Em uma aula de metodologia, um professor, sabendo desta frustração, sugeriu que buscasse perguntas em outras fontes, como música ou literatura da Primeira República brasileira. E foi aí que rolou a epifania:

“Aquele livro guardado lá na gaveta da minha memória apareceu. Rapidamente li e reli o livro umas cinco vezes para ter certeza. E tive: Clara dos Anjos, de Lima Barreto, era a personificação da mulher negra da qual eu queria falar. Aliado a essa coincidência, tive a sorte de ser orientada por um professor que também é um apaixonado por Lima Barreto, o Luís Antonio. Depois desta descoberta foram quatro anos de imersão na vida do escritor Lima Barreto, de suas obras e do que escreveram sobre ele. Foram centenas de horas dedicadas a decifrar Clara dos Anjos, a maior obsessão da vida de Lima Barreto”, lembra Silvana Mansano.

O resultado destes estudos, além de um TCC aprovado, foi o projeto de mestrado, em que analisa o romance Clara dos Anjos como uma crítica social do Rio de Janeiro da Primeira República: “Não foi nada fácil chegar até lá, mas cheguei, e agora os próximos passos são desenvolver o projeto, escrever artigos e divulgar o nome de Lima Barreto, com o objetivo de que mais pessoas o conheçam e leiam seus livros. Se conseguir que, em especial, os jovens das classes menos favorecidas, leiam Lima Barreto, me sentirei ricamente recompensada”, afirma.

Atualmente Silvana Mansano trabalha no comércio da família, em Marília (SP). Seu orgulho, garante, são as mais de 500 obras que possui: “Os dramas têm minha preferência. Tirando o meu querido Lima Barreto, aprecio muito Thomas Mann, Guimarães Rosa, Hermann Hesse, Goethe, Dostoievisky, Kafka, Poe, Gabriel Garcia Marquez. Mas a poesia também tem seu lugar: gosto demais de Jorge Luís Borges, Caio Fernando Abreu e Pablo Neruda”, finaliza.

Dia da Mulher em Literatura é bom pra vista com mestranda de Lima Barreto, apaixonada por animais e por Literatura é um luxo!